Essa é uma das frases mais devastadoras e desleais que uma mulher pode ouvir durante um processo de divórcio. Depois de anos de dedicação, esforço conjunto e construção de uma vida a dois, o patrimônio da família “desaparece” atrás de um CNPJ, e com ele, a sensação de segurança e justiça.
Muitos homens, em uma tentativa de proteger os bens e prejudicar a ex-parceira, utilizam a empresa como um cofre, acreditando que essa “blindagem patrimonial” é à prova de falhas.
Mas aqui vamos colocar os pingos nos ‘is’: a Justiça brasileira não é ingênua. Se você suspeita que está passando por isso, saiba que existem mecanismos legais poderosos criados exatamente para combater esse tipo de fraude. Este post é o seu guia para entendê-los.
1- AS FERRAMENTAS DA JUSTIÇA PARA PROTEGER SEUS DIREITOS
Quando fica claro que a empresa está sendo usada como fachada para esconder o patrimônio do casal, seu advogado pode usar duas teses principais para “atravessar” esse véu e buscar o que é seu por direito.
Ferramenta 1: A Desconsideração da Personalidade Jurídica (A Arma Principal)
O que é? Pense na empresa como uma pessoa com uma “máscara” (o CNPJ). A lei permite que, em casos de fraude, o juiz simplesmente remova essa máscara. Prevista no Artigo 50 do Código Civil, essa ferramenta é usada quando se comprova o “abuso” da empresa, seja por desvio de finalidade (usar a empresa para fins pessoais) ou por confusão patrimonial (quando as contas e os bens da pessoa física e da empresa se misturam de tal forma que é impossível saber o que é de quem).
Na prática: O juiz ignora a separação entre CPF e CNPJ e determina que os bens registrados na empresa sejam usados para pagar a sua parte na partilha.
Ferramenta 2: A Teoria da Aparência
O que é? A Justiça também se preocupa com a realidade dos fatos, não apenas com o que está no papel. Se um bem (uma casa de praia, um carro de luxo) está no nome da empresa, mas na vida real era o casal quem o usava publicamente como se fosse dono, a Justiça pode reconhecer que, na aparência e na prática, aquele bem pertence à família.
Na prática: O que vale é a realidade. Se vocês usavam a casa de campo da “empresa” todo feriado e postavam fotos nas redes sociais, isso demonstra que o bem servia à família, e não à atividade empresarial.
2 – A CHAVE DE TUDO: COMO PROVAR A FRAUDE?
Nesses casos, a prova é a alma do processo. Não basta alegar, é preciso demonstrar a confusão patrimonial ou o desvio de finalidade. Felizmente, as provas estão no dia a dia do casal:
✅ Testemunhas: Vizinhos, amigos, funcionários ou até mesmo parentes que podem confirmar que era a família, e não a empresa, que usava os bens.
✅ Documentos e Extratos: Comprovantes de que as despesas do imóvel da “empresa” (luz, condomínio, IPTU) eram pagas pela conta pessoal do seu ex-marido, ou de que o dinheiro para comprar o bem saiu diretamente da conta do casal.
✅ Fotos e Vídeos: As redes sociais são um prato cheio. Fotos da família no carro de luxo da empresa, vídeos das férias na casa de praia ou qualquer registro que mostre o uso pessoal de um bem registrado no CNPJ são provas valiosíssimas.
3- ACONTECE MESMO? UM CASO REAL DO TRIBUNAL DE SÃO PAULO
Sim, acontece o tempo todo, e os tribunais estão de olho. Em um caso julgado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo. Um homem comprou um imóvel de luxo no nome de sua empresa. A ex-esposa, no entanto, conseguiu provar com fotos e testemunhas que o local era a residência de veraneio da família.
O Tribunal não teve dúvidas: aplicou a desconsideração da personalidade jurídica e determinou que 50% do valor do imóvel fosse partilhado. A decisão foi clara ao dizer que a compra em nome da empresa “teve o claro propósito de lesar a meação da ex-cônjuge”. A Justiça viu a fraude e agiu.
CONCLUSÃO
Guarde esta informação: o nome no documento não é o fim da história. É apenas o começo da investigação.
Se o patrimônio foi construído com o esforço do casal – seja seu esforço financeiro ou sua dedicação ao lar e aos filhos –, ele pertence ao casal. A Justiça brasileira está cada vez mais atenta para proteger a parte mais vulnerável e para garantir que a partilha de bens seja feita com base na realidade dos fatos, e não em manobras para esconder patrimônio.
Não aceite ser enganada. Procure seus direitos e lute pelo que é seu.
Cada caso possui suas particularidades. Este post serve para informar e esclarecer, mas não substitui a orientação de uma advogada especialista em Direito de Família, que poderá analisar os detalhes da sua história e garantir a melhor proteção para seus direitos.